A Dieta Alcalina: muito mais do que emagrecimento

A Dieta Alcalina: muito mais do que emagrecimento

O que promete

Conhecida e adorada pelas celebridades, a dieta alcalina, também referida como dieta ácida-alcalina, promete ajudar na perda de peso, manutenção do peso saudável e, ainda, na prevenção e tratamento de vários problemas de saúde, como cancro, artrite e problemas cardíacos. Fundamenta-se na teoria de que alguns alimentos podem condicionar o pH dos fluidos corporais, incluindo a urina e o sangue, defendendo, por exemplo, que a carne, trigo, açúcar refinado e alimentos processados, acidificam o pH do corpo através da produção de ácido, sendo, por isso, prejudiciais à saúde. Por outro lado, a ingestão regular de determinados alimentos, como frutas e legumes, contribui para um ambiente corporal menos ácido, ou seja, mais alcalino, protegendo contra o aparecimento de inúmeras doenças e promovendo o metabolismo normal, essencial à manutenção do peso saudável.

Trata-se, em suma, de uma dieta que visa corrigir o pH do corpo, enfatizando o consumo de alimentos que têm, supostamente, reacções alcalinizantes no organismo. Contudo, devido a falta de estudos em humanos que atestem os benefícios desta dieta, não é frequentemente recomendada por dietistas, nutricionistas  ou outros profissionais de saúde convencionais.

 

História

A relação entre alimentação e acidez ou alcalinidade do corpo tem sido estudada há décadas, inicialmente com foco na alteração da acidez da urina com vista a prevenção de cálculos (pedras) renais e de infecções urinárias. O biólogo francês Claude Bernard foi responsável pela primeira documentação deste efeito quando observou, em coelhos, que a mudança de uma dieta herbívora para uma dieta carnívora provocou a alteração no pH da urina de alcalino para ácido. Surgiu, assim, a hipótese de que estes alimentos, quando metabolizados, contribuem para regular a alcalinidade ou acidez dos fluidos corporais, nomeadamente a urina. Contudo, a medicação, mais do que a alteração dos hábitos alimentares, é mais efectiva na alteração do pH urinário, pelo que é ainda o tratamento de eleição.

Mais tarde, esta hipótese ácida-alcalina recomeçou a ser investigada pelas ciências da nutrição, com incidência no papel das partículas carregadas negativamente (aniões) e das partículas carregadas positivamente (catiões) dos alimentos. Dietas ricas em aniões, como o cloro, fosfatos e sulfatos, são supostamente formadoras de ácidos, enquanto dietas ricas em catiões, como o potássio, cálcio e magnésio, são supostamente formadoras de alcalinos.

 

Como funciona

Para começar, um pouco de química: o valor de pH, cuja escala varia entre 0 e 14, caracteriza a acidez ou a alcalinidade de uma substância. Um valor de pH de 0 é completamente ácido, enquanto um pH de 14 é completamente alcalino; um pH de 7 é, pois, considerado neutro. No corpo humano, o pH não é igual em todos os líquidos corporais:  o sangue é ligeiramente alcalino, com um pH que oscila entre 7.35 e 7.45; o pH do estômago é extremamente ácido, de forma a possibilitar a digestão dos alimentos, sendo de 3,5 ou inferior; já o pH da urina é mais variável, dependendo da alimentação, sendo os rins que controlam e mantêm, através da urina, o pH do sangue.

A dieta alcalina pretende, pois, auxiliar o corpo a manter o pH sanguíneo equilibrado, através da alimentação. Tradicionalmente, esta dieta sugere que se evite carne, peixe, ovos, lácteos e alguns cereais, alimentos que supostamente contribuem para a produção de ácidos. Alternativamente, recomenda-se o consumo de alimentos ditos alcalinizantes, como frutas e vegetais. De referir que mesmo alguns alimentos conhecidos pela sua acidez, como os citrinos, são considerados alcalinizantes, pois a sua metabolização origina resíduos alcalinos. Por outro lado, algumas frutas como mirtilos, açaí e ameixas, produzem resíduos ácidos.

O termo dieta alcalina, e as recomendações em que se baseia, tem sido comummente usado por profissionais das medicinas alternativas, com a pretensão de que este tipo de dietas podem ajudar na prevenção do cancro e doenças cardiovasculares, doenças auto-imunes, cálculos (pedras) renais, manutenção da saúde músculo-esquelética, melhoria dos níveis de energia e da função cerebral e redução do risco de desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 2. Contudo, tais alegações não são, ate à data, suportadas por evidências cientificas, pelo que são requeridos mais estudos que permitam compreender e concluir sobre o efeito destes alimentos na fisiologia e na química do corpo humano.

Mas desde logo se percebe que pelo menos alguns dos conselhos da dieta alcalina são benéficos para a saúde humana, auxiliando na perda e manutenção do peso saudável e garantindo um aporte elevado de alimentos ricos em anti-oxidantes: consumo abundante de frutas e vegetais, ingestão adequada de água, abolição dos açúcares refinados, do álcool e de comidas processadas.

 

O que pode e não pode comer

A maioria das frutas e legumes, principalmente na sua forma natural, feijão de soja e tofu, leguminosas e algumas oleaginosas e sementes são considerados alimentos promotores de alcalinidade, pelo que o seu consumo é encorajado.

Por sua vez, leite e derivados, ovos, carne, a maioria dos cereais, açucares refinados e alimentos processados, já integram a lista dos alimentos promotores de acidez e não são aconselhados na dieta alcalina, pelo menos em abundância,  O hábito de fumar, bem como o consumo de bebidas com cafeína e álcool são igualmente desaconselhados.

Para fazer uma dieta alcalina é necessário que o plano alimentar diário integre pelo menos 60% de alimentos alcalinizantes ou alcalinos e até 40% de alimentos acidificantes ou ácidos. Essa divisão pode ser conseguida de forma pratica através do controlo do número de refeições: assim, considerando que faria 5 refeições por dia, 3 deveriam privilegiar alimentos alcalinos, e 2 poderiam conter alimentos ácidos.

Em seguida, apresenta-se uma lista com exemplos de alimentos alcalinos:

Legumes: aconselha-se o consumo em cru, sempre que possível, de vegetais como brócolos, beterraba, couve-flor, aipo, pepino, couves, alface, cebola, ervilhas, pimentos e espinafres, ruibarbo, alcachofra e feijão-verde;

Frutas: maçã, banana, uvas, melão, melancia, limão, laranja, pêra, maça, pêssego, abacate, toranja, kiwi, figos e uvas desidratados (secos);

Fontes de proteína: oleaginosas (como amêndoas e nozes, sementes (de abobora, girassol, de linho, de sésamo, por exemplo),  leguminosas (como soja, feijão, grão, lentilhas, ervilhas, favas);

Especiarias e condimentos: canela, caril, gengibre, orégãos, grãos de mostarda, sal marinho;

Água: prefira a que apresenta um pH alcalino, isto é, ligeiramente superior a 7 (confirmação através da indicação no rotulo).

De referir que alimentos classificados como moderadamente ácidos (como maçã, manga, iogurte, feijão, cerejas,  ovos, peixe) também devem ser evitados, podendo apenas contribuir para até 40% da alimentação diária.

 

Pessoas com restrições alimentares

Esta dieta adequa-se sobretudo a pessoas que seguem um regime restrictivo como o regime alimentar vegetariano ou mesmo vegano (vegetarianos restritos). As pessoas intolerantes ao glúten poderão também praticar a dieta alcalina, visto que esta exclui o consumo de trigo, contudo, para evitar por completo o glúten deve ter atenção aos rótulos alimentares, uma vez que o glúten não esta só no trigo. Alem do trigo, esta dieta é igualmente adequada para quem pretende eliminar açucares e gorduras com vista ao emagrecimento e/ou redução do colesterol e triacilglicerois sanguíneos.

 

 

O que ponderar antes de iniciar

Se pretende iniciar a dieta alcalina, como no caso de qualquer outra dieta, deve aconselhar-se, sempre que possível, com um profissional experiente, para que garantir que está na posse da informação necessária ao inicio deste regime alimentar, sabendo especificamente quais os alimentos que pode consumir, quantidades, proporções, temperos permitidos e esclarecer todas as suas dúvidas.

Deverá, ainda, ter em consideração que o nível de esforço requerido para praticar uma dieta alcalina é elevado, pois desde logo estará a cortar com alimentos que sempre fizeram parte da sua alimentação, como pão, lácteos, peixe... Outra  provável limitação prende-se com o facto de que muitos alimentos se encontram excluídos, incluindo álcool e cafeína.

Quanto à aquisição e preparação, terá, à partida, facilidade em encontrar variados legumes e frutas disponíveis, porém, pode levar algum tempo a aprender a preparar as suas refeições usando alimentos frescos, acrescendo o facto de estar também limitado quanto aos condimentos permitidos.

Quanto ao custo da dieta alcalina, são muitas vezes sugeridos livros de orientações e receitas alcalinas, suplementos, água alcalina, alimentos e bebidas. Estes elementos encarecem a dieta, contudo, deve saber que não são essenciais para a seguir, pois a maior parte dos alimentos recomendados encontram-se no super-mercado.

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